Laurentino Gomes discute as cicatrizes abertas do período escravocrata do Brasil em palestra na Fundaj

O escritor ministrou a palestra “A Escravidão e seu legado no Brasil”, na qual lançou o terceiro livro da série escravidão e participou de sessão de autógrafos.

Na tarde desta quinta-feira (4), o escritor Laurentino Gomes esteve na Fundação Joaquim Nabuco para a palestra “A Escravidão e seu legado no Brasil”, que toma como ponto de partida sua trilogia de livros “Escravidão”, com seu último volume também lançado no evento. A conferência foi realizada para uma plateia cheia no Cinema da Fundação/Museu, que pôde assistir ao autor resgatar as memórias do período escravocrata brasileiro, a luta da abolição e a necessidade do que chamou de uma “segunda abolição”, que deve combater as condições de dignidade humana não dadas naquele 13 de maio de 1888.

A palestra foi aberta pelo escritor Antônio Campos e pelo jornalista Mario Helio, que ressaltaram a importância do trabalho que Laurentino vem desenvolvendo nos últimos anos em prol da difusão da história do Brasil. “O rigor da pesquisa, dos textos e das fontes marcam a obra de Laurentino, consagrado no Brasil e fora dele. Seu último livro traz importantes relatos. A Fundação Joaquim Nabuco, criada pelo mestre Gilberto Freyre, sente-se agradecida e orgulhosa pela presença dele. Queremos registrar também a generosidade dele, que não cobrou por essa palestra, homenageando a casa de Nabuco e de Gilberto”, ressaltou Antônio.

De acordo com Mario Helio, Laurentino sai do jornalismo sem ter saído do jornalismo. “Ele vai pra história com o mesmo rigor de apuração e com a mesma preocupação com as fontes e registros, como se viajasse no tempo, estando também um tanto como antropólogo. Essa capacidade de semear livros, porque trata-se um bestseller, alguém que escreve de forma clara, que gosta do leitor e o mima com linguagem fácil, para que todos possam compreender as intricadas e complexas coisas do Brasil”, completa Mario Helio.

Em sua palestra de cerca de 50 minutos, Laurentino discorreu sobre a cruel resistência do estado brasileiro à abolição da escravatura, apresentando teses como a de Sérgio Buarque de Holanda sobre o pacto da aristocracia escravocrata com o trono do país e o medo da eclosão de uma guerra civil e étnica, além do papel de abolicionistas como André Rebouças, Luis Gama e Joaquim Nabuco, de quem também discorreu sobre suas ideias sobre uma abolição para além da formal, que conferisse plenitude e dignidade para a população preta liberta.

“Existe uma famosa frase de Joaquim Nabuco na semana da assinatura da Lei Áurea, naqueles 10 dias tão decisivos, em maio de 1888, que ele diz ‘lamento que o túmulo da escravidão não seja largo o suficiente para abrigar a herança da escravidão’. Esse é o problema, o 14 de maio, a data do esquecimento, do abandono. Porque o Brasil aboliu formalmente a escravidão, parou de comprar e vender gente, mas abandonou a população afrodescendente a própria sorte. Não incorporou essa população na sociedade produtiva e cidadã brasileira. Existe um plano nacional deliberado de esquecimento e abandono. O preço é o legado da escravidão que continua hoje, essa segunda abolição que não aconteceu”, elaborou.

A palestra, transmitida ao vivo para a Sala Calouste Gulbenkian, também no campus Casa Forte da Fundaj, terminou sob fortes aplausos. Em seguida, Laurentino participou de uma sessão de autógrafos no hall do Museu do Homem do Nordeste, no qual o público pode receber a assinatura do autor em publicações como o recente volume III. da série “Escravidão” e a edição comemorativa de 1822, a respeito da Independência do país.

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