O Maranhão precisa mudar para valer e com urgência ou aceitamos “jogar a toalha”


Por Waldir Maranhão

Nunca antes na história deste país” o Brasil esteve em situação tão crítica em termos políticos e sociais. Com a devida licença, valho-me do bordão do ex-presidente Lula para abrir o presente texto, porque o cenário atual é extremamente preocupante.

A pandemia do novo coronavírus trouxe à luz uma realidade que a maioria dos brasileiros sequer imaginava que fosse tão extensa e cruel. Todo homem público comprometido com a população precisa reverter esse quadro, o que não acontecerá apenas com discursos modulados e de encomenda.

É preciso agir antes que seja tarde demais. O Brasil não mais suporta tantos escândalos, tanta incompetência no âmbito político. O meu estado, o Maranhão, muito menos.

Quem conhece minimamente o Maranhão, longe dos elegantes e caríssimos edifícios que brotam por toda parte na ilha de São Luís, a capital, sabe a que me refiro. A disparidade social no estado chega a ser criminosa.

Nos tempos em que poucas commodities movimentavam as exportações brasileiras, dando ao país posição de destaque no terreno do comércio internacional, o Maranhão tinha lugar ao sol por causa da indústria do algodão. Esse quadro foi lembrado pelo engenheiro agrônomo Francisco Benedito da Costa Barbosa, em recente publicação – “Economia do Maranhão e de São Paulo: Semelhança na Origem, Descontinuidade no Desenvolvimento”.

Como destaca o título do estudo, Costa Barbosa comparou a realidade econômica de ambos nos séculos 18 e 19Naquela época, São Paulo, hoje o mais importante estado da federação, substituiu a mão de obra escrava pelos investimentos no trabalhador assalariado e em novas tecnologias.

O Maranhão, por sua vez, que na ocasião ostentava um dos maiores PIBs per capta do país, parou no tempo, deixando a miséria tomar conta de um estado que é considerado rico em termos de recursos naturais.

Há muito ouço falar das riquezas do meu estado, mas não consegui enxergar até o momento a conversão desse tesouro em algo favorável à população. Do mesmo modo, desde a infância escuto a reverberação do mantra “O Brasil é o país do futuro”. Lembro que esse futuro teima em não chegar.

O Brasil deu passos atrás se considerado o avanço de outras nações em desenvolvimento. A trajetória do Maranhão não foi diferente.

É impossível subir em um palanque eleitoral e prometer mudanças em um país onde a remuneração mínima oficial é de R$ 1.212,00. Não podemos fechar os olhos para a realidade e ecoar o discurso de que o brasileiro é um povo que excesso de criatividade quando o assunto é sobrevivência.

No Maranhão, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em novembro de 2021, 74% da população vive com menos de um salário mínimopor mês. Esse quadro resulta da concentração de renda nas mãos de uma minoria cada vez mais endinheirada e da ausência ou fracasso de políticas públicas.

Por outro lado, o meu estado ostenta um dado interessante: é a unidade da federação com o terceiro melhor salário médio para professores. Há sim, um inegável curto-circuito em terras maranhenses, pois pressupõe-se que onde há professores bem remunerados a qualidade da educação está acima da média. Por consequência, o nível de aprendizagem segue o mesmo caminho. Mas não é isso que acontece.

Lembro-me de medida anunciada pelo ex-presidente José Sarney, que como governador do Maranhão colocou em marcha a seguinte fórmula: uma sala de aula por dia, uma escola por mês, uma faculdade por ano.  

Não é preciso qualquer esforço do raciocínio para perceber que há muitos equívocos na política maranhense, os quais precisam ser corrigidos ou extirpados do cotidiano.

O modelo de política no Maranhão, assim como no Brasil, recheado de promessas inviáveis, chegou ao exaurimento, aos próprios estertores. A prova maior desse desmoronamento está em cena para quem quiser conferir, não sendo necessário ir muito além da porção aquinhoada da capital São Luís.

Analisando os capítulos iniciais da corrida presidencial de outubro próximo, percebe-se com facilidade que o Brasil está polarizado e assim deve continuar até Afinal, nenhum presidenciável conseguiu convencer o eleitorado e assumir a cadeira da chamada “terceira via”.

Mudar é preciso, o tempo urge, a miséria grita debaixo de ouvidos surdos. Como mudar e com quem é a grande questão. Alguém há de dizer que as afirmações aqui contidas têm viés esquerdista, mas lembro que a pobreza não sabe diferenciar ideologias.

Não se pode prometer mudanças no campo social sem antes promover distribuição de renda. Nenhuma economia é capaz de avançar com dois terços da população recebendo menos de dois salários mínimos por mês. Há quem diga que o Maranhão é um retrato do Brasil, mas confesso que não quero mais ver essa imagem, mesmo que figurada seja.

Mudar é preciso, é mandatório, pois os maranhenses necessitam de doses mínimas de dignidade para continuar sonhando com dias melhores. A nós cabe a mudança, às futuras gerações a responsabilidade de continuar o combate à desigualdade social. Essa mudança não pode acontecer sem responsabilidade e o momento de começar é agora. Muda, Maranhão!

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