As poucas informações sobre a greve de canavieiros da Zona da Mata de Pernambuco, em 1979, confirma que mesmo o passado é um território de disputa. Tida por muitos pesquisadores como uma das mais significativas ações do movimento sindical rural brasileiro, o evento aconteceu nos municípios de Paudalho e São Lourenço da Mata, durante a Ditadura Militar. Nesta segunda-feira (8), essa história pode ser reconhecida na exposição Jogo da Memória, dos artistas Marcela Lins e Guilherme Benzaquen. A abertura será promovida virtualmente no canal da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no YouTube. Mas também poderá ser conferida fisicamente a partir do dia 9, das 10h às 16h, na Galeria Baobá.
Resultado da 5ª edição do projeto Residências Artísticas, da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), da Fundaj, o resultado da investigação deveria ser apresentado no segundo semestre de 2020. Mas precisou ser adiado em meio à pandemia de Covid-19. Na montagem, o público poderá conferir diversos fragmentos em formato 12 x 12 cm de fotografias deste e de outros movimentos atrelados a canavieiros; depoimentos em vídeo dos grevistas; documentos extraídos do Serviço Nacional de Informações (SNI), que atestam um mapeamento do movimento feito pelos militares e um gaveteiro de telegramas fictícios.
“A exposição pretende a reconstrução de uma memória de um acontecimento vitorioso e de esperança”, adianta Guilherme. “Ela aparece por ser um marco em um tempo onde não se fazia greve. Há uma série de relatos que apontam esta como a primeira grande greve rural brasileira, desde a instauração do Regime Militar”, destaca Marcela. Para tanto, ambos artistas se debruçaram sobre arquivos e memórias para provocar outras narrativas possíveis, ainda que de modo fragmentado. São imagens produzidas pela imprensa e extraídas de jornais da Biblioteca Nacional e do livro Greve nos Engenhos (1980), da socióloga Lygia Sigaud.
Em um dos pavimentos, o visitante poderá conferir o Gaveteiro de Memórias. Nele, um móvel reúne 10 mil telegramas fictícios construídos a partir do relato de quatro grevistas que participaram ativamente do ato. Ao todo, os artistas destacaram 155 trechos e um telegrama em branco. “Para representar as lacunas”, justifica Benzaquen. “No jogo da memória, é preciso lembrar. Partimos dessa alegoria para pensar essa greve como algo que precisa ser lembrado”, explica Marcela Lins. A exposição segue aberta à visitação até 30 de abril, das terças às sextas-feiras, seguindo todos os protocolos sanitários.
*Sobre os artistas*
Marcela Lins e Guilherme Benzaquen desenvolvem trabalhos artísticos e de pesquisa conjuntamente desde 2017. Já foram agraciados com prêmios e participaram de exposições individuais e coletivas no Museu de Arte Contemporânea do Paraná, no Centro Cultural Brasil Alemanha, no Museu Murillo La Greca, no Festival de Inverno de Garanhuns e no Itaú Cultural. Suas experimentações artísticas se centram nas tensões entre arte e crítica do existente, com trabalhos relacionados à cidade, memória, invenção e política. Guilherme é pós-doutorando em Sociologia. Marcela é doutoranda em comunicação.
_Serviço_
*Exposição Jogo da Memória, de Marcela Lins e Guilherme Benzaquen*
Estreia: 8 de março, no canal oficial da Fundaj, no YouTube
Visitação: 9 de março a 30 de abril
Horário: terças às sexta-feiras, das 10h às 16h
Local: Galeria Baobá (Av. Dezessete de Agosto, 2187 – Casa Forte, Recife)
Gratuito