Exposição na Fundaj revela cotidiano de violências no Brasil contemporâneo

A mostra “Berna Reale – Rastros e Avisos” será aberta na próxima quinta-feira (13), às 18h, na Galeria Vicente do Rego Monteiro.

Aartista paraense Berna Reale investiga com o seu trabalho as chagas de um Brasil profundamente marcado por atos de violência cotidianos. Atos banalizados quando acometidos, principalmente, aos negros, indígenas, pobres, públicos ainda mais expostos ao negligenciamento e à morte. Com abertura na quinta-feira (13), às 18h, a mostra “Berna Reale – Rastros e Avisos” propõe sondar esta realidade contemporânea.

É a partir da sua dupla condição profissional de artista visual e também perita criminal do Centro de Perícias Científicas do Estado do Pará, que Berna Reale tem desenvolvido, ao longo dos anos, uma obra que denuncia singularidades da violência que assenta e estrutura o país. Como técnica forense, ela é testemunha cotidiana dos contornos existentes na violência que toma forma no Brasil. Com isso, busca, seja por meio de vídeos performance ou fotografia, criar imagens que evoquem e defrontem tal exposição seletiva à precariedade da vida.

A mostra exibirá dois vídeos da artista paraense, ambos integrando à Coleção de Videoarte da Fundação Joaquim Nabuco. Serão projetados em grandes dimensões sobre as paredes da Galeria Vicente do Rego Monteiro, no campus Ulysses Pernambucano da Fundaj, no Derby. Em “Ordinário” (2013), o primeiro vídeo, Berna Reale recolhe e expõe, sobre a carroça que empurra em ruas de Belém, ossadas de vítimas não identificadas de homicídio. Já em “Palomo” (2012), montada em cavalo branco tingido de vermelho, a artista vagueia por uma Belém silenciosa ao amanhecer, como se fosse um vigia.

O pesquisador da Fundaj e curador da exposição, Moacir dos Anjos explica sobre o trabalho minucioso presente nas duas obras. “Em “Ordinário”, restos mortais de pessoas assassinadas, que por anos permaneceram abandonados em sacos plásticos nos depósitos da polícia, estão expostos à vista de todos. A artista evoca a memória de um apagamento social que persiste mesmo após o fim da vida”, atesta o curador da exposição. “Já em “Palomo”, Berna Reale comenta menos uma situação passada de descaso do que a possibilidade de futuros abusos violentos, cometidos inclusive por quem deveria zelar pela integridade da população. Condensa, em uma imagem, a fragilidade de qualquer sossego”.

Para Moacir dos Anjos, as duas obras da artista paraense conseguem ativar, de forma e modos distintos, equivalências atentas às violências que afetam mais uns do que outros no mundo concreto. “Violências que não são reencenadas por ela nos vídeos, sendo antes sugeridas por imagens construídas. Confrontá-las implica assumir a necessidade partilhada de combatê-las a todo custo. Ou declarar-se, ao contrário, indiferente aos tantos rastros e avisos que contidos na obra da artista”, finaliza.

 

SERVIÇO:

Berna Reale – Rastros e Avisos

Local: Galeria Vicente do Rego Monteiro, R. Henrique Dias, 609 – Derby, Recife

Data da abertura: 13 de abril (quinta-feira), às 18h

Em cartaz até 18 de junho

Horários habituais de funcionamento: terças a sextas, 14h às 17h; sábados e domingos, das 13h às 17h.

Entrada gratuita

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