Aos que me foram gratos, minha gratidão, aos ingratos, a esperança de que mudem

(*) Waldir Maranhão

Na Semana Santa, de tão relevada importância para os cristãos, não poderia deixar de abordar a gratidão e a ingratidão, polos opostos da personalidade humana. Nem sempre ambas habitam o mesmo ser.

A Bíblia tão bem narra a ingratidão de Judas Iscariotes para com Jesus. Um dos doze apóstolos, Judas aceitou receber trinta moedas de prata como recompensa para entregar Jesus Cristo.

Na política, para mim um sacerdócio, há também os Judas, os quais, ao contrário do que narra o livro sagrado, não se enforcam por causa da traição, da ingratidão.

Estar na política e nela sobreviver exige destreza nas relações humanas, pois é preciso compreender o comportamento do seu semelhante para seguir adiante nas buscas dos nossos propósitos.

Desde o meu ingresso na política, na década de 90, experimentei a gratidão de pessoas valorosas de caráter, assim como fui grato a quem estendeu a mão em momentos de necessidade.

Também experimentei a ingratidão por parte daqueles que se apresentaram como lobo em pele de cordeiro. Não nutro desprezo em relação a essas pessoas, apenas lamento por terem agido de tal forma. E espero que tenham se arrependido.

Se fui ingrato com alguém ao longo da vida, confesso que isso aconteceu sem que percebesse. Quem me conhece sabe da minha contínua disposição de ajudar o próximo, sem jamais pensar em contrapartida.

Por onde passei no universo político, oportunidades não faltaram para que fosse ingrato com quem agiu comigo dessa maneira. Sempre prevaleceu a minha essência, marcada pela solidariedade e pelo companheirismo.

A política do país por vezes se assemelha à antiga Gólgota (Calvário), já que crucifica-se a honra alheia a esmo e com os pregos da ingratidão. Ser ingrato é um ato de egoísmo, de descompromisso com a consciência.

Por outro lado, a gratidão exige coragem, desprendimento, coerência, sintonia com a alma. Sou grato a muitos, como já citei, sou grato a Lula, a Dilma Rousseff, a Weverton Rocha, que na primeira vez que foi às urnas, ainda na juventude, me confiou seu voto. Agora, apesar dos açoites dos adversários, estou e estarei ao seu lado, sem pensar em gratidão.

O homem, independentemente do poder que concentra em suas mãos, em algum momento há de acertar as contas consigo mesmo. É o que muitos chamam de exame de consciência. E nada mais incômodo na vida de um homem do que a consciência pesada.

Muitos creem que os ingratos não têm consciência, mas discordo desse ponto de vista. Para mim, em algum momento o ingrato se cobra, se questiona, se condena.

Como diz o amigo Ucho Haddad, jornalista que se tornou amigo há tempos, “sou o melhor produto dos meus próprios erros”. E com eles aprendi, tentei melhorar como ser humano, como homem público. E permaneço em busca dessa melhoria.

Também sou fruto dos momentos difíceis que a vida me impôs, os quais sempre enfrentei com fé e cabeça erguida. Nesses capítulos da vida sobraram ingratos, mas fui grato a muitos. Não saberia ser diferente, não sei ser diferente.

Agora, com as eleições se aproximando, volto a concorrer a um mandato eletivo depois de quatro anos, período em que não me afastei da política. Aliás, existir, viver e se relacionar são atos eminentemente políticos. Em outras palavras, o ser humano é por consequência um ser político.

Pronto para participar das próximas eleições, ao lado de alguns a quem sou grato, busco ser útil ao meu povo, a quem também ofereço minha gratidão, àqueles que me confiaram o voto.

Sou grato sempre, até mesmo com os que me dedicaram ingratidão, pois esses permitiram que eu melhorasse como ser humano, como pai, marido, político, defensor de um povo sofrido e sempre abandonado pelos poderosos.

Muitas vezes a política é marcada por vários episódios de ingratidão, os quais devem ser compreendidos até o limite do seu alcance. Não guardo rancor, não quero o mal dos que me foram ingratos, pelo contrário.

Homem de fé que sou, desejo que reavaliem os próprios atos, que não imitem Judas e despeçam-se da vida na corda da forca. A vida é valiosa, os maranhenses precisam de homens públicos desprovidos de rancores, dispostos a promover a mudança.

Aos que até aqui me acompanharam, a minha eterna gratidão. Afinal, como disse o escritor espanhol Miguel de Cervantes, “a ingratidão é a filha da soberba”. Gratidão e humildade compõem a minha receita de vida. Feliz Páscoa a todos e que nessa data possamos renascer.

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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