Chico Science e Getúlio Cavalcanti são os homenageados em eventos de Carnaval da Fundaj

Getúlio será celebrado no 2º Concurso Nordestino de Frevo, para marcar 80 anos do seu nascimento, enquanto Science será o grande homenageado do Carnaval da Fundaj, no ano que marca 25 anos de sua morte

Com o tema “Oh linda festa de Carnaval”, a Fundação Joaquim Nabuco homenageará no carnaval deste ano, Chico Science, o principal nome do Movimento Manguebeat. A homenagem marca os 25 anos do seu falecimento. Apesar da partida precoce, com apenas 30 anos, Chico deixou o legado de incluir Pernambuco na rota artística dos anos de 1990 com a inovadora mistura dos batuques da percussão e os reefs marcantes das guitarras.

Já no 2º Concurso Nordestino do Frevo, o grande homenageado será Getúlio Cavalcanti. Com 80 anos de idade e seis décadas de dedicação à música, Getúlio faz parte da música pernambucana. Cantor e compositor, interpreta frevos de bloco, de rua e canção. Em seu repertório, registra as partidas vividas e os encontros celebrados no Reinado de Momo.

Getúlio Cavalcanti recebeu o ofício comunicando sobre a homenagem das mãos do presidente da Fundaj, Antônio Campos, em seu gabinete, no campus Casa Forte, na terça-feira (15). “O carnaval é uma festa popular que vai além da folia: ele é também o reflexo da cidade e o berço de novos encontros e símbolos”, Antônio Campos. Por esse motivo, esclarece, a Fundação escolheu homenagear dois personagens importantes e revolucionários. “Getúlio é um clássico popular do carnaval e da cultura pernambucana e Chico Science é nossa conexão com as raízes””, complementa.

Getúlio Cavalcanti, que conquistou o primeiro lugar na Categoria Frevo de Bloco no Concurso Nordestino do Frevo, promovido pela Fundaj, disse estar emocionado com o destaque para seu nome. E ressaltou que são ações, como esta da Fundaj, que concedem a oportunidade de celebrar os que atuam para manter viva e preservar a memória da cultura pernambucana. “Sempre gostei do chão, de desfilar com as pessoas no carnaval que não tem barreiras, sentir o cheiro do povo, cantar e tocar meu bandolim ali no meio do povo. Diante desse interesse da Fundaj em prestigiar o meu nome nesse evento tão importante para Pernambuco que é o carnaval, eu fico muito feliz e muito honrado”, atesta.

A família de Chico Science também celebrou a lembrança à memória do músico. Compositora, cantora e atriz, Louise Taynã, filha de Chico, ao saber da homenagem resumiu o que estava sentindo. “Estou muito feliz!”. Goretti França, a irmã do músico, destacou a importância do trabalho cultural e social do compositor. “Alegra-nos que ele seja homenageado pois, de certa forma, a sua indiscutível importância para a cultura e para a música brasileira está sendo reconhecida pelo estado onde nasceu”, comemorou.

A atualidade no frevo
Voz que desfila por composições e verseja junto a saxofones, clarinetes, trombones e flautas, Getúlio Cavalcanti zela pelo frevo. Em o “Último regresso”, um de seus maiores sucessos, o fervor se mistura com a saudade do folião que encontra no carnaval o estado de completude e deseja que ele dure o ano inteiro. “Falam tanto que meu bloco está / Dando adeus prá nunca mais sair / E depois que ele desfilar / Do seu povo vai se despedir / No regresso de não mais voltar / Suas pastoras vão pedir / Não deixem não / Que um bloco campeão / Guarde no peito a dor de não cantar”, são alguns dos versos que se juntam com a paleta de cores e acertam marcha pelas ruas da capital pernambucana.

As produções do carnavalesco registram dois LPs, 14 CDs, 2 DVDs, mais de mil frevos e até dois livros. Nomes como Martinho da Vila, Altemar Dutra, Teca Calazans e Moraes Moreira já interpretaram as músicas que têm em cada palavra o sentimento de um folião apaixonado pelo carnaval do Recife. Com 80 anos de idade e seis décadas de dedicação à música, Getúlio Cavalcanti continua alimentando sua paixão pelas partituras. Em 2021, venceu o 1º lugar na categoria Frevo de Bloco no Concurso Nordestino do Frevo, promovido pela Fundaj, com a composição “É fantasia”.

Nascido em Camutanga, Zona da Mata Norte de Pernambuco, no dia 10 de fevereiro de 1942, Cavalcanti é, ainda, compositor de outros gêneros, como samba, bolero, chorinho, guarânia, rock, forró, xote, baião, toada, prelúdio, marchinha, fox e marcha rancho. Na Fundaj, foi convidado em 1987 para participar da série de LPs Compositores Pernambucanos, onde gravou a faixa “Antônio Maria”.

O artista se mudou para o Recife aos 15 anos, onde ficou conhecido como “menestrel do frevo de bloco” e também participou das suas primeiras serestas. Foi em 1962 que o compositor estreou na TV Tupi como cantor profissional e gravou “Você Gostou de Mim”, com o maestro Nelson Ferreira.

Em 1976, já casado com sua esposa Rose e formado em administração pela UFPE, estourou no mercado musical com o frevo-de-bloco “O Bom Sebastião”. Em seu currículo de festivais, soma quase 50 títulos, sendo 40 nos concursos de música carnavalesca oficiais da prefeitura do Recife, destes, 33 primeiros lugares. É também membro da Academia Pernambucana de Música.

Detentor do título de Príncipe dos Blocos pelo Bloco das Flores – o mais antigo de Pernambuco -, faz juz ao lugar que ocupa no reinado do lirismo musical pernambucano, contribuindo com constância e amor no dever de manter viva a tradição do gênero frevo-de-bloco. As músicas carnavalescas de Getúlio Cavalcanti fazem parte do repertório dos blocos e troças do carnaval pernambucano e já foram gravadas por grupos como a Orquestra Criança Cidadã, a Banda de Pau e Cordas, o Bloco da Saudade e o Coral Edgar Moraes.

No início de 2021, lançou, de forma virtual, o disco “O Samba pernambucano de Getúlio Cavalcanti” e também o livro “Entre Sonetos, Cantigas e Cordel”. O disco com 13 faixas autorais foi produzido pelo músico, produtor e arranjador carioca, Jorge Simas, com a participação do próprio Jorge nos violões e de grandes instrumentistas pernambucanos, como Marco César (bandolim). Nos vocais, participam os filhos de Getúlio (Cassius e Alessandra) e ainda os netos (Breno e Beatriz – filhos de Alessandra).

Chico Science e a conexão com as raízes

Na transição entre terra e mar, a mistura de ritmos regionais alcançou a paisagem do mangue e urbano de Pernambuco. O cenário e as condições sociais do Recife e de Olinda foram fonte de inspiração para a origem do movimento Manguebeat, que teve como um dos principais representantes o cantor, compositor e crítico social Chico Science. Ele transformou a estética e a música do estado, sempre celebrando as raízes culturais com sua liberdade na criação artística. Suas referências iam desde a música regional, como frevo, ciranda, maracatu e outros estilos folclóricos, à Black Music internacional, como artistas como James Brown e Sugar Hill Gang. Além da mistura dos ritmos, o mangue beat é um movimento visual. Chapéu de palha, óculos escuros, camisas estampadas e colares coloridos são alguns dos elementos que fazem parte da composição e têm referências à cultura típica pernambucana.

Francisco de Assis França, filho de Francisco França e Rita França, nasceu em 13 de março de 1966 e viveu a maior parte da vida no bairro de Rio Doce, em Olinda. Na década de 1990, ingressou no grupo de percussão “Lamento Negro”, mistura de ritmos folclóricos e populares, com batidas dos tambores, atabaques e guitarras. Da fusão do grupo Loustal e o Lamento Negro, surgiu ao grupo “Chico Science e Lamento Negro”, que depois foi batizado de “Chico Science & Nação Zumbi”. A banda estreou em 1991, no espaço Oásis, em Olinda. As referências à cultura típica do estado continuaram e o resultado era uma mistura entre maracatu rural, coco de roda, rock, hip-hop, funk rock e a música eletrônica.

O primeiro disco, “Da Lama ao Caos”, foi lançado em 1994 e o grupo começou a ter projeção nacional e internacional. Já o segundo álbum, “Afrociberdelia”, lançado 1996, chegou ao 5º lugar na World Music Charts Europe e rendeu turnê por 13 cidades europeias. O disco teve a participação de artistas como Gilberto Gil, Marcelo D2 e Fred Zero Quatro. As composições de Chico Science junto à Nação Zumbi tinham como reflexos as desigualdades sociais na cidade, com críticas à pobreza e à marginalidade. As raízes fincadas no mangue criaram um novo laço dos pernambucanos com a cultura regional e com o compromisso de promover mudanças sociais. Chico Science faleceu no dia 2 de fevereiro de 1997 após acidente automobilístico. O acidente ocorreu nas proximidades de um mangue no Complexo de Salgadinho, em Olinda.

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